HAMILTON, Ontário, Canadá: Similares aos anéis das árvores, os dentes armazenam dados permanentes de anomalias microscópicas na dentina. Ao analisar esses traços de vida nos dentes de seis indivíduos que morreram há centenas de anos, pesquisadores canadenses foram capazes de rastrear de modo preciso a deficiência de vitamina D durante o tempo de vida dessas pessoas. As descobertas projetam nova perspectiva sobre os desafios diários enfrentados pelas pessoas no passado, e também pode ajudar no estuda da saúde das crianças atualmente.
Diagnosticar episódios de deficiência de vitamina D é desafiante devido às mudanças sutis retidas no esqueleto. Entretanto, esses episódios de anormalidades não desaparecem nos dentes, mas são evidentes na formação das características dos espaços interglobular da dentina. No estudo, pesquisadores da Universidade McMaster em Hamilton examinaram um total de 12 dentes em indivíduos com evidência de deficiência de vitamina D. Os dentes são oriundos de quatro mulheres enterradas em um cemitério francês entre 1225 e 1798, de duas pessoas enterradas na região rural de Québec entre 1771 e 1860, uma criança com suposta idade de 3 anos e um homem de 24 anos.
Com base nos defeitos da dentina, a análise mostrou que todos tinham deficiência de vitamina D ou raquitismo, doença comum na infância causada pela condição que resulta no enfraquecimento do osso e é frequentemente caracterizado por pernas arqueadas e quadris deformados. Ao estudar a microscópica estrutura dos dentes, arqueologistas são capazes de traçar conclusões sobre as condições de vida no passado, por exemplo como certas populações tinha acesso limitado à luz solar devido às funções laborais, cultura e posicionamento social.
No atual estudo, os dentes de um homem de 24 anos mostraram que ele sofreu quarto períodos de raquitismo antes de completar 13 anos: dois antes da idade de 2 anos, mais uma vez por volta dos 6, e de alguma maneira um episódio severo por volta dos 12 anos. “Nós correlacionamos a idade com a qual o dente estava se formando, com a localização de defeito no dente. Por exemplo, se estava abaixo da coroa, era anterior a formação do dente, se estava na raiz poderia ser um pouco mais tarde”, explicou o autor líder Lori D’Ortenzio, um estudante de Ph.D. da universidade.
Embora mais pesquisa seja necessária, o estudo mostrou que problemas sistêmicos de mineralização em indivíduos com deficiência podem causar a paralisação ou falta de mineralização na dentina, prevenindo o crescimento e fusão da dentina, concluíram os pesquisadores. Em adição, as descobertas são evidências de que a dentina tem o potencial de possibilitar o reconhecimento de episódios passados de deficiência de vitamina D em casos onde os indicadores esqueléticos não são claros.
A falta de vitamina D pode ser causada por desnutrição ou exposição limitada à luz solar. Durante um episódio severo de deficiência, o corpo tem dificuldade em absorver o cálcio dos alimentos, resultando primeiramente no enfraquecimento dos ossos. Estima-se que mais de um bilhão de pessoas no mundo não obtém vitamina D suficiente, e pelo mundo, o raquitismo ainda afeta populações infantis de modo significativo, mais notoriamente em partes da Ásia e África.
O estudo, intitulado “The rachitic tooth: A histological examination”, foi publicado on-line em 30 de junho na revista Journal of Archaeological Science antes da versão impressa.
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