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Entrevista: "Idade por si só não é uma contraindicação"

Prof. Martin Schimmel (Foto: DTI)
Daniel Zimmermann, DTI

Daniel Zimmermann, DTI

seg. 2 novembro 2015

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Durante o EAO 2015 em Estocolmo, o Prof. Martin Schimmel da Divisão de Gerodontologia da Universidade de Berna discutiu algumas das questões éticas e os desafios financeiros relacionados ao tratamento de implante em idosos. O Dental Tribune Online falou com ele sobre essas questões e a importância de oferecer a essa população vulnerável os benefícios da terapia de implante.

Dental Tribune Online: Os fabricantes de implantes parecem estar exclusivamente orientados para grupos etários mais jovens hoje em dia. O senhor acha que a geração prata está sendo negligenciada quando se trata de terapia de implante e, em caso afirmativo, quais poderiam ser as razões para tal?
Prof. Martin Schimmel: Eu não acho que essa afirmação seja verdadeira. A perda de dentes está cada vez mais associada às pessoas idosas. Na minha opinião, a maioria dos fabricantes de implantes dentários está ciente do fato de que as pessoas no mundo ocidental estão mantendo seus próprios dentes por mais tempo devido ao sucesso da implementação de medidas preventivas.

O tratamento de casos de trauma em pessoas mais jovens é bastante limitado. Ao mesmo tempo, a clientela para tratamento de implante está se tornando cada vez mais velha. Dados do Departamento de Cirurgia Oral e Estomatologia da clínica dentária da Universidade de Berna, demonstra claramente isso. Implantes de diâmetro estreito também são explicitamente comercializados como "Gero" implantes hoje em dia.

Por que os pacientes mais idosos, em particular, se beneficiam da terapia de implante?
Especialmente pacientes totalmente desdentados e aqueles com uma mandíbula edêntula se beneficiam mais. A estabilização mandibular completa de dentaduras com a ajuda de implantes endosteais é uma das maiores conquistas da odontologia. Estudos científicos têm encontrado muitos efeitos positivos, incluindo a melhora da qualidade de vida, satisfação com próteses dentárias, funcionalidade mastigatória e reduzida atrofia óssea.

Pacientes parcialmente desdentados podem se beneficiar da funcionalidade do implante de próteses fixas, bem como estruturalmente. Próteses dentárias removíveis convencionais têm provado serem inferiores, especialmente em situações de extremidade livre.

Durante um painel de discussão no Congresso da EAO em Roma no ano passado, foi achado por unanimidade que não há limite de idade para terapia de implante. Qual é a idade máxima em que implantes dentários podem ser razoavelmente utilizados?
A idade por si só não é uma contraindicação. Mesmo em cuidados paliativos, os implantes podem ainda desempenhar um papel válido. Excluir as pessoas dos benefícios desta terapia devido à sua estatisticamente menor vida útil remanescente é imoral. No entanto, deve-se considerar exatamente o ponto em que os implantes na boca fazem mais mal do que bem - primum non nocere [acima de tudo, não prejudicar] – particularmente em situações onde a limpeza não é mais possível e implantes se tornam meramente uma superfície na qual os biofilmes aderem. Além disso, a possibilidade de contraindicações médicas aumentam com a idade avançada.

Quais fatores desempenham um papel crucial no tratamento de implante dos pacientes idosos, e quais os fatores que os clínicos precisam considerar quando comparados com o tratamento de outras faixas etárias?
Naturalmente, a variabilidade interindividual entre pacientes aumenta com a idade, o que significa que quanto maior a idade do paciente, mais personalizadas as estratégias de tratamento têm que ser. O planejamento e a execução precisam ser constantemente ajustados para individualidades médicas, psicológicas e sociais. Abordagens cirúrgicas minimamente invasivas e métodos de tratamentos protéticos que tenham a menor adaptabilidade e outras alterações fisiológicas devido à idade em consideração foram bem sucedidos a este respeito.

Nos países ocidentais, a lacuna entre ricos e pobres é cada vez maior. Os idosos estão cada vez mais caindo no último grupo. Que medidas podem ajudar a garantir o seu acesso ao tratamento de implante dentário?
O único caminho para um acesso amplo a essas terapias para os pacientes financeiramente menos favorecidos reside em sistemas de seguros privados ou públicos. Essas são questões políticas. No entanto, dentistas, técnicos e a indústria estão constantemente trabalhando sobre as estruturas da produção industrial e assim, reduzindo os custos. As evoluções digitais em odontologia irão certamente ajudar a prover os pacientes com tratamentos caros por um preço muito mais razoável. No entanto, métodos simplistas de produção muitas vezes, não são adequados para as complexas necessidades de tratamento dos idosos.

O senhor tem apontado os benefícios de métodos de produção digital. Que outras medidas também poderiam facilitar o acesso dos idosos aos implantes dentários?
Hoje em dia, a maior parte das despesas incorridas se devem as horas de trabalho realizado pela equipe de dentistas e técnicos. Processos digitais podem contribuir para encurtar o tempo de tratamento através de fluxos de trabalho inovadores. Além disso, os métodos da quase produção industrial podem ser utilizados em casos menos complexos, reduzindo ainda mais os custos.

É importante observar que os fabricantes de implantes têm mantido ou até mesmo baixado seus níveis de preços por algum tempo. No entanto, continua a ser importante avaliar o valor econômico do uso de implantes de baixo custo, porque eles podem ter uma taxa muito maior de insucesso, como demonstrado por um recente estudo sueco (Nota editorial: Derks et al. 2015).

De uma perspectiva política de saúde, o senhor vê qualquer déficit na subvenção de implantes dentários para os idosos?
Isso pode variar de país para país. Na Suíça, por exemplo, a subvenção de pacientes com baixa renda é avaliada individualmente pelas autoridades locais. O tratamento de pessoas que recebem benefícios da previdência social ou com necessidades fundamentais de benefícios mínimos é subsidiado se a terapia de implante possa ser realizada de modo simples, econômico e adequado. Dois implantes interforaminais, por exemplo, serão reembolsados, se o tratamento protético convencional não for capaz de restaurar a habilidade mastigatória do paciente.

No sistema de seguro de saúde estatutário, existe a obrigação de realizar a terapia se a perda de dentes foi devido à ocorrência ou tratamento de uma doença grave, ou de um acidente ou defeito de nascença. Há, sem dúvida, espaço para outras indicações, mas também tem de se considerar os encargos para os sistemas de previdência social. Na minha opinião, a Suíça estabeleceu um sistema suficiente e equilibrado.

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