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Estudo sugere que biofilme dentário pode ter ligação direta com ataque cardíaco

Um novo estudo revelou uma dimensão crucial da ligação, agora bem estabelecida, entre saúde bucal e doenças cardiovasculares. (Imagem: Nenad/Adobe Stock)

qui. 9 outubro 2025

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TAMPERE, Finlândia: A relação de longa data entre bactérias orais e doenças sistêmicas ganhou nova importância com os recentes avanços na medicina molecular. Como parte dessa tendência, um estudo inovador realizado por pesquisadores finlandeses encontrou evidências convincentes de que bactérias comumente encontradas na boca podem desempenhar um papel causal no ataque cardíaco. A pesquisa sugere que o infarto do miocárdio pode, em alguns casos, ser desencadeado por processos infecciosos originados em biofilmes orais.

Nos últimos anos, a relação entre saúde bucal e saúde geral tem se tornado um foco de discussão cada vez mais importante, tanto em contextos acadêmicos quanto clínicos. Dentre essas conexões, a relação entre saúde bucal e doenças cardiovasculares tem sido especialmente estudada extensivamente. Um estudo de 2024, por exemplo, identificou a doença periodontal como um "fator de risco não tradicional no desenvolvimento e progressão de doenças cardiovasculares".

Com base nesses fundamentos científicos, as descobertas do novo estudo finlandês indicam que a conexão pode ser direta. Os pesquisadores descobriram estreptococos viridans — um grupo de bactérias tipicamente associado ao biofilme dentário e à endocardite infecciosa — em placas ateroscleróticas obtidas de vítimas de morte súbita cardíaca e pacientes submetidos a cirurgia vascular.

O estudo analisou placas coronárias de 121 casos de autópsia e amostras de endarterectomia de 96 pacientes cirúrgicos. Utilizando técnicas moleculares avançadas, a equipe encontrou DNA de estreptococos viridans em aproximadamente 42% de ambos os conjuntos de amostras. Esses biofilmes bacterianos estavam profundamente alojados nos depósitos arteriais e escapavam ao sistema imunológico do corpo, permitindo que infecções crônicas de baixo grau persistissem despercebidas.

Investigações posteriores revelaram que partes do biofilme bacteriano se desprenderam e migraram em direção à camada superficial da placa — a capa fibrosa que separa o depósito da corrente sanguínea. É nessa capa que rupturas frequentemente levam a infarto do miocárdio fatal. Foi demonstrado que as bactérias dispersas desencadeiam respostas imunes inatas e adaptativas, alimentando assim a inflamação.

Os resultados desafiam visões antigas de que o infarto do miocárdio é uma doença puramente metabólica, sugerindo, em vez disso, que a infecção bacteriana crônica pode contribuir para o desenvolvimento de ataque cardíaco em alguns casos. Em um comunicado à imprensa da Universidade de Tampere, o autor principal, Prof. Pekka Karhunen, da Faculdade de Medicina e Tecnologia da Saúde da universidade, explicou a importância da pesquisa: "O envolvimento bacteriano na doença arterial coronariana é suspeito há muito tempo, mas faltam evidências diretas e convincentes. Nosso estudo demonstrou a presença de material genético — DNA — de diversas bactérias orais dentro de placas ateroscleróticas."

Para a odontologia, as implicações são profundas. Como os estreptococos viridans são essenciais para a formação do biofilme dentário, o estudo ressalta a importância de manter uma higiene bucal rigorosa e controlar infecções dentárias crônicas — não apenas para a saúde bucal, mas também para reduzir o risco cardiovascular.

O estudo, intitulado  “Viridans streptococcal biofilm evades immune detection and contributes to inflammation and rupture of atherosclerotic plaques” , foi publicado on-line em 19 de agosto de 2025 no Journal of the American Heart Association.

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