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Entrevista: "A ferida de Kennedy era claramente incompatível com a vida"

Dr. Don T. Curtis falando no evento sobre os 50 anos do assassinato de Kennedy. (DTI/ Foto Stephanie Price/Museu Histórico Panhandle-Plains, EUA)
Daniel Zimmermann, DTI

Daniel Zimmermann, DTI

seg. 16 dezembro 2013

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A apenas poucas pessoas são concedidas a oportunidade de tornar-se parte ativa dos acontecimentos históricos. Um ex-cirurgião dentista de Amarillo, no Texas, de setenta e seis anos de idade o Dr. Don T. Curtis, passa a ser um deles. Como residente em cirurgia buco maxilo facial no Parkland Memorial Hospital, em Dallas, ele foi um dos primeiros médicos a ter realizado o tratamento de emergência no presidente dos EUA John F. Kennedy depois que ele foi baleado em 22 de novembro de 1963. O Dental Tribune Internacional teve a oportunidade de falar com ele sobre esse dia e porque ele acha que existe algo mais do que um atirador solitário em relação ao assassinato.

Dental Tribune ONLINE: Um filme sobre os eventos em Parkland Memorial Hospital, produzido por Tom Hanks e estrelado por Billy Bob Thornton, acaba de ser lançado por ocasião do 50 º aniversário do assassinato de Kennedy. O senhor já assitiu, e na sua opinião ele se mantém fiel aos acontecimentos?
Dr. Don T. Curtis: Eu não assisti, mas ouvi críticas de que retrata os eventos de forma sensacionalista. Eu acho que eu iria assistir se passasse aqui em Amarillo. 

O senhor começou a trabalhar no Parkland Memorial Hospital em 1963. Qual a sua posição naquela época?
Naquela época, eu estava no meio do caminho cursandoo meu primeiro ano de residência em cirurgia buco maxilo facial. Antes de cursar a residência, eu também completei um internato. Fiquei interessado no campo enquanto trabalhava como técnico cirúrgico em um hospital geral durante o meu tempo na faculdade de odontologia da Faculdade de Odontologia da Universidade de Baylor, em Waco.  

O senhor estava ciente de que o presidente estaria em Dallas em 22 de novembro de 1963?
Eu não tinha conhecimento disso e fiquei surpreso quando o trouxeram para o hospital. Eu tinha uma cirurgia marcada para mais tarde naquele dia e estava indo almoçar. O caminho para a sala de almoço no entanto,  me obrigava a deixar o prédio e atravessar a área de recepção da sala de emergência, onde notei carros de polícia e a limusine presidencial que tinha sangue nela e rosas que foram dadas para a primeira-dama, Jacqueline Kennedy, quando ela chegou ao aeroporto.

Quando um policial me perguntou se eu era um médico, eu disse que sim. Ele, então, respondeu que o presidente estava ferido e me levou para a sala de trauma, onde o presidente Kennedy estava.

Qual era o estado de Kennedy quando o senhor chegou?
Quando cheguei lá, era óbvio que o presidente estava inextremis. Ele tentava respirar mas estava incapacitado de fazê-lo. O Dr. Charles James Carrico, um cirurgião residente de Parkland, tinha colocado um tubo endotraqueal numa tentativa de ventilação. No entanto, isso não funcionou porque havia um bloqueio nas vias respiratórias do presidente, então o Dr. Carrico decidiu fazer uma traqueostomia.

Eu ajudei a enfermeira a desamarrar a gravata do presidente e tirar a camisa para prepará-lo para o procedimento. Em seguida, o Dr. Malcolm Perry, um cirurgião sênior, entrou na sala e ficou decidido que ele deveria fazer a traqueostomia. O Dr. Carrico assistiu ao Dr. Perry e eu executei uma incisão na perna esquerda para proporcionar a substituição intravenosa de perda de sangue.

Mais tarde, quando olhei para cima, a sala estava cheia de altos chefes de todos os departamentos cirúrgicos de Parkland. Havia também algumas pessoas que eu não conhecia.

O senhor foi informado de que o presidente foi alvo de uma tentativa de assassinato?
Eu não tinha conhecimento da natureza da lesão do presidente porque sua cabeça estava em um travesseiro e eu não podia ver a ferida. Lembro-me do chefe de neurocirurgia Dr. Kemp Clark virando a cabeça de Kennedy para a esquerda, revelando que a parte posterior de seu crânio estava radicalmente fraturada. Ele então disse: "Pare, esta lesão é incompatível com a vida".  

Como era a atmosfera na sala?
Fez-se um silencio. Ninguém disse nada.  

Em sua opinião, houvera alguma chance de que a vida do presidente pudesse ter sido salva?
Nada do que fizemos fez a diferença. A ferida de Kennedy era claramente incompatível com a vida.  

Segundo testemunhas, a discussão começou sobre quem foi autorizado a fazer a autópsia. O senhor notou alguma coisa?
Eu não notei porque eu sai da sala de trauma logo após o presidente ter sido declarado morto e voltei à clínica para ver o meu paciente na sala de cirurgia. No entanto, descobri que todas as cirurgias agendadas para esse dia foram canceladas e que todos os pacientes tinham sido enviados de volta para a enfermaria. Naquele momento apenas algumas cirurgias tiveram andamento, incluindo aquela do governador Connally, que também foi ferido durante o tiroteio.

Informei a minha paciente que sua cirurgia tinha sido adiada. Ela compreendeu. Uma vez que não havia mais nada para eu fazer, então eu desmarquei o meus compromissos na clínica e fui para casa. Ali, passamos o final de semana assistindo televisão e ouvindo as notícias no rádio. Ficamos aliviados que o presidente Lyndon B. Johnson retornou em segurança de volta para Washington e que o governo não foi interrompido.

Finalmente, no domingo, nós soubemos que o suspeito Lee Harvey Oswald foi baleado, o que indicava que havia algo acontecendo, além de apenas um atirador solitário.  

A maioria dos americanos não acredita que Oswald agiu sozinho, como concluiu o relatório da Comissão Warren nomeada pelo governo para investigar as circunstâncias do assassinato. O senhor notou alguma irregularidade entre esta versão oficial e os eventos que o senhor testemunhou?
O relatório da Comissão Warren refletiu sobre o que o povo queria ouvir, que foi que Oswald agiu sozinho e que não havia nenhuma conspiração. Os médicos do Parkland no entantoenquanto limpavam o sangue do pescoço de Kennedy para a traqueostomia, encontraram um único buraco de bala que aparentemente era uma ferida de entrada o que significa que deve ter sido um projétil que atingiu o presidente pela frente. Devido à sua natureza, a ferida na parte de trás da cabeça de Kennedy era um ferimento de saída, de modo que devem ter havido pelo menos duas balas que vinham pela frente.

Embora todos os testemunhos dos médicos, incluindo o meu, foram incluídos no relatório, o seu conhecimento sobre as feridas não tinha muita influência sobre a conclusão geral da Comissão. Por que foi interpretado dessa forma, isso tem permanecido um mistério pelos últimos 50 anos.  

O que o senhor acredita que realmente aconteceu naquele dia?
A minha opinião pessoal é de que havia, claro, vários atiradores e que Oswald não fez isso sozinho. Isso indicaria, porém, que houve de fato uma conspiração.  

Após os eventos, o senhor ficou no Parkland Memorial Hospital por mais dois anos. Os eventos ainda foram discutidos pela equipe posteriormente?
Nós, na verdade, nunca conversamos sobre isso. Isso foi algo que simplesmente não queríamos discutir. No entanto, deixei Parkland, em 1965, para uma residência de intercâmbio em Londres e Zurique, onde eu muitas vezes discuti os eventos com os meus colegas no exterior. Particularmente na Inglaterra, havia muito interesse na política dos Estados Unidos e no assassinato.

O senhor recentemente veio totalmente em público com o seu conhecimento depois de 50 anos. Quais foram as suas razões para fazê-lo?
Tudo o que eu poderia dizer já está demonstrado na literatura sobre o assassinato, mas acho que é preciso haver um conhecimento geral do que as pessoas sabiam que estavam realmente envolvidas.  

Mais de seis milhões de páginas de provas confidenciais sobre o assassinato de Kennedy vão ser lançadas em 2017. O senhor está interessado neste conhecimento ou o senhor considera que esse capítulo de sua vida está fechado?
Há muita especulação sobre quais as informações que esses documentos realmente contêm. Eu não espero nada com isso, mas estaria interessado em saber o que pode ser aprendido com eles.  

Muito obrigado pela entrevista.

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