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Uma revisão recente demonstrou que a hipnose pode ajudar a controlar a dor e o estresse vivenciados por pacientes odontológicos. (Imagem: Africa Studio/Adobe Stock)

MONTREAL, Canadá: A hipnose, há muito associada a apresentações teatrais e entretenimento, vem atraindo atenção por suas aplicações clínicas na área da Odontologia. À medida que cresce a demanda por maneiras mais confortáveis ​​e não invasivas de controlar a ansiedade e a dor durante o tratamento odontológico, o interesse por abordagens complementares também aumenta. Uma recente revisão narrativa realizada por pesquisadores no Canadá contribui para esse discurso ao examinar o crescente conjunto de evidências que apoiam o uso da hipnose clínica em ambientes odontológicos. Os resultados sugerem que a hipnose pode ser um complemento valioso para o controle da ansiedade odontológica, da dor aguda relacionada a procedimentos e de certas condições crônicas de dor orofacial.

Angélique Thibault, autora principal de uma revisão recente sobre hipnose na Odontologia, acredita que, com treinamento adequado, dentistas e suas equipes podem integrar elementos da hipnose ao atendimento de rotina aos pacientes. (Imagem: Angelique Thibault)

“Considerando que os tratamentos odontológicos frequentemente provocam ansiedade e dor aguda, minha equipe e eu buscamos entender melhor o papel da hipnose na Odontologia”, explicou a autora principal, Angélique Thibault, assistente de pesquisa e aluna de graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade de Montreal, ao Dental Tribune International. Ela acrescentou: “Vale a pena explorar qualquer adjuvante que possa beneficiar os pacientes e aumentar seu conforto durante os procedimentos odontológicos.”

A revisão sintetizou descobertas de 12 revisões sistemáticas e/ou meta-análises publicadas entre 2000 e dezembro de 2024. Oito se concentraram no tratamento da ansiedade odontológica e/ou dor aguda de procedimento, e o restante examinou condições crônicas, como disfunção temporomandibular e síndrome da boca ardente.

As evidências mais fortes de que a hipnose é um adjuvante clínico foram encontradas em procedimentos que envolvem anestesia local e extrações dentárias. Diversos estudos relataram redução da necessidade de sedação farmacológica, menor dor pós-operatória e até mesmo menor uso de analgésicos quando a hipnose foi empregada. Em alguns casos, os tempos de recuperação foram mais curtos e houve menor necessidade de reforço anestésico durante o tratamento.

Ao discutir técnicas específicas de hipnose que parecem ser as mais eficazes para auxiliar no controle da ansiedade odontológica, Thibault observou que a hipnose terapêutica, realizada por meio de sugestões hipnóticas por um hipnoterapeuta treinado, parece ser mais eficaz do que a hipnose gravada em áudio. No entanto, ela reconheceu que, na prática privada, envolver um especialista adicional pode nem sempre ser viável. "É por isso que a hipnose terapeuta-operador — administrada diretamente pelo dentista — deve ser incentivada, desde que ele ou ela tenha recebido treinamento adequado", observou.

Os resultados também destacaram o potencial da hipnose para reduzir marcadores fisiológicos de estresse, como frequência cardíaca e pressão arterial, além da ansiedade relatada pelos pacientes. Embora as evidências para crianças e adolescentes tenham sido mais limitadas, vários estudos apontaram resultados positivos quando a hipnose foi comparada a outras técnicas de redução da ansiedade, como distração ou comunicação pré-operatória aprimorada.

Em termos de dor orofacial crônica, as evidências não são tão robustas. Embora os estudos sugiram potenciais benefícios — como aumento da abertura bucal e redução dos níveis de dor em pacientes com disfunção temporomandibular — a maioria era de baixa qualidade metodológica. Ainda assim, Thibault acredita que as implicações são promissoras: "Com dor crônica, o objetivo é melhorar a vida do paciente, já que a dor raramente é completamente eliminada."

“É crucial diferenciar entre hipnose de palco e hipnoterapia clínica.”

Integrando a hipnose na prática

Uma limitação da revisão é a falta de padronização nos protocolos de hipnose entre os estudos. Os autores enfatizaram a necessidade de ensaios clínicos randomizados de alta qualidade com descrições detalhadas das técnicas de hipnose para fortalecer a base de evidências e facilitar comparações significativas.

Segundo Thibault, outra barreira significativa para uma adoção mais ampla é a forma como a hipnose é percebida pelo público e até mesmo por alguns profissionais da odontologia. "É crucial diferenciar entre hipnose de palco e hipnoterapia clínica", disse ela. "Muitas pessoas têm medo de perder o controle, um equívoco moldado pelo entretenimento", explicou.

A hipnose, enfatizou ela, não deve ser vista como um substituto da anestesia ou dos métodos convencionais de tratamento, mas sim como um complemento para melhorar a qualidade geral do atendimento. "Nossa revisão contribui para a conscientização tanto entre os profissionais da odontologia quanto entre os pacientes. Esperamos que ela incentive novas pesquisas e apoie a integração da hipnose na prática odontológica baseada em evidências — especialmente para crianças, que normalmente são muito receptivas à sugestão hipnótica", disse ela.

Os autores concluíram que as evidências disponíveis corroboram a inclusão do treinamento em hipnose na educação odontológica e em cursos de desenvolvimento profissional contínuo. Como afirmou Thibault: "Com treinamento adequado, integrar a hipnose ao cuidado odontológico diário não só é viável, como pode melhorar significativamente a experiência do paciente."

O artigo de revisão, intitulado “Evidence-based practice of hypnosis in dentistry: Narrative summary of reviews and meta-analysis”, foi publicado on-line em 13 de março de 2025 no American Journal of Clinical Hypnosis , antes da inclusão em uma edição.

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