SEATTLE, EUA: Pesquisadores descobriram que variantes genéticas comuns de metalotioneína (MT), uma proteína que tem a capacidade de se unir a metais pesados, aumentando a suscetibilidade das crianças à toxicidade do mercúrio de amálgamas dentárias e de outras fontes. Num estudo com 330 crianças, chegaram à conclusão de que garotos portadores das variantes estavam mais propensos a déficits comportamentais associados ao mercúrio.
O estudo incluiu 164 garotos e 166 garotas, entre 8 a 12 anos que participaram do Estudo Casa Pia dos Efeitos da Amálgama Dentária nas crianças, um estudo investigando os efeitos à saúde da exposição a níveis baixos de mercúrio, conduzidos entre 1996 e 2006 entre estudantes do sistema escolar Casa Pia em Lisboa, Portugal.
Cientistas da Universidade de Washington avaliaram que tanto a variável genética MT1M quanto MT2A reportam alteração nas reações do mercúrio em adultos, e afetou as relações entre concentração urinária de mercúrio e funções neurocomportamentais em crianças. Eles avaliaram os níveis de concentração urinária do mercúrio e a performance neuro comportamental das crianças anualmente desde o início durante 7 anos de acompanhamento após a implantação inicial da amálgama dentária ou preenchimentos compostos de resina. 81 garotos e 74 garotas receberam preenchimentos compostos de resina enquanto 83 garotos e 92 garotas receberam restaurações de amálgama.
Dentre os garotos, numerosos e significantes efeitos de interação entre as variáveis genéticas MT1M e MT2A e exposição ao mercúrio foram observados, influindo em vários domínios de funções neurocomportamentais, segundo os pesquisadores. Notaram uma performance debilitada nos domínios de visão espacial apurada, aprendizagem e memória, com alguns impactos adicionais nas funções motoras e que necessitam de atenção. De qualquer forma, todas as associações foram restritas a garotos com as variáveis genéticas MT1M e MT2A em particular, no entanto, a exposição ao mercúrio pela amálgama dentária entre garotos e garotas foi semelhante.
Os autores disseram que os resultados podem ter implicações importantes na saúde pública para futuras estratégias visando a proteger crianças e adolescentes dos riscos potenciais a saúde associados à exposição ao mercúrio.
A população estudada teve uma média de QI de 86 e uma concentração urinária de mercúrio relativamente alta, implicando sua exposição ao mercúrio. Os pesquisadores suspeitaram que a exposição associada à combustão de combustíveis fósseis para múltiplos usos no ambiente urbano são possíveis fontes do mercúrio. Além disso, o consume do peixe, uma fonte de mercúrio inorgânico, pode ter contribuído para os elevados níveis de mercúrio na urina das crianças. De acordo com os pesquisadores, Portugal tem o maior consumo per capita de peixe na Europa. Mais de 60% dos pais e responsáveis disseram que suas crianças consumiram peixe numa frequência semanal.
O estudo intitulado “Modificações de efeitos neurocomportamentais do mercúrio por polimorfismos da metalotioneína nas crianças”, foi publicado online no dia 1º de julho no jornal de Neurotoxicologia e Teratologia.
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